Dienstag, März 21, 2006


Alquimia da Dor

Neste corpo onde
As chagas se entrelaçam,
Mutuas transformações me aprisionam...

Na infância...

O presente fel da desgraça
Encanto da má sorte...

Companheiro de um karma
Que me condena a fogueira santa,
Percorri vastos campos degustando a intolerância e,
Percebi que o meu corpo
era apenas Uma carcaça angustiada e fraca
confrontando com o vento...

Filho do abandono e do desalento
Desliguei-me da minha entidade espiritual...
Procurei potencializar as minhas forças,
Bebi do cálice que guarnecia o ódio,
Transformei-me numa coisa tenebrosa.

Carlos Conrado
Mãe

Tu que colhes os ermos deste cemitério,
Vem colher a víscera deste corpo,
Louco e desvairado carne do fracasso...

Tu que amamenta um feto menino,
Derrame o teu leite num leito de flores,
Vem, se entregue ao arroio...

Tu que anda nesta noite,
Vem visitar-me, estou a sete palmos,
Ó ser excomungado pela lua...

Tu que chora nesta tumba,
Deixe que o teu pranto invoque estes restos,
Esses pútridos esquecidos pela vida...

Tu que a saudade é quem guia,
Nunca me esqueça!
Busque-me algum dia...

Tu que os sonhos acompanham,
Nunca te esqueça,
Dos dias em que éramos um só...

Tu que leva esta carcaça depressiva,
Vem dar-me o ultimo beijo,
O abraço do adeus...

Tu que és musa de um desgraçado,
Feio, morto e sepultado,
Traz-me o teu colo ó mãe querida.

Carlos Conrado
Anestesia

Faço do meu silêncio uma imagem,
Um retrato emoldurado pelas mãos da solidão...
Encharco de longos intervalos o meu coração e,
Faço pulsar o sangue de uma calada canção...

Sou como a fênix foragida das cinzas,
Sou também a angustia concebida pela vida...

Sou a maldição que atormenta Baudelaire,
Sou o marasmo, o tédio e a dor...

Sou filho do mundo que não me quer,
Sou uma forja de desejos assassinos...

Sou o ocultado pranto da melancolia,
Sou a tristeza de um sorriso,
Meu bem! Eu sou a tua anestesia.

Carlos Conrado