Samstag, April 08, 2006


ESCOLHA


Defronte a uma bifurcação
Para a escolha de um caminho certo,
O que se passa pelo coração,
Já que a alma é um deserto?

Tens à frente duas estradas
Com aspectos bem diferentes
E se a escolha for desastrada
Não reclames do que sentes;

Pois tens toda uma eternidade
Para resolveres o que queres:
Sessenta segundos à vontade;
É suficiente para o que pedes!

Vedes um caminho sombrio,
Escuro, um tanto alagado;
Um pântano lívido e frio
Que nem de longe é cogitado...

Então passas à segunda opção:
Um caminho luminoso e colorido
Com um quê de tentação,
Não mais doce que florido.

E é por aí mesmo que vais,
Para contentar teu egoísmo
E é aí mesmo que cais
No vão esparso de um abismo...

Apenas porque a aparência
Corrompe tudo o que é mortal
E para tantos não faz diferença
Se o anjo fugaz é letal...


Josiene Ferreira

Escarpas

Sob o caminho da serpente
O rastro de minha mente
Oculta o que você sente
E finge que entende
Por que você mente,
Foge e não atende
Um chamado tão ardente
Que nem carece da gente
Junto para seguir em frente:
Existe! Independente
De você estar carente,
Ou satisfeito o suficiente
Para, não mais que de repente,
Impelir-se todo crente
Para esse sentimento doente
Que comove até o assistente
Do demônio mais exigente
Que me habita, insistente;
Mas que a mim soa demente
Porque por detrás da lente
Que faz com que se aumente
A imagem, não tão inocente,
De uma mulher impertinente
Jaz, mui profundamente,
A sombra intermitente
Da menina que, sistematicamente,
Perdeu, por algum agente,
A alma subserviente
E talvez por isso não alente
A normalidade previamente
Achada em tanta gente.
Seu olhar, conturbadoramente,
Oculta e revela, maquinalmente,
O que talvez jamais se represente
No mesmo olhar, novamente.
E se me deres enigma correspondente
Ao que simulo ser indiferente,
Pode ser que, de repente,
Alcances aquela serpente
Nas escarpas de minha mente.


Josiene Ferreira