Freitag, November 17, 2006

YIN YANG

A negrura de minh’alma
Contrasta com a palidez da tua,
Que, de tão pura, me acalma
E aplaca a dor mais crua
Que se alojar em meu peito;
Mas que não mais me dá o direito
De querer me apossar dela;
Ainda que eu lhes desse tons de aquarela,
Seria apenas tua, ela
E com a mesma lividez de uma vela.
Que, pálida, adentra-me com jeito,
Alumiando qualquer defeito,
Sem, contudo, deixar de ser bela...

A brancura de tu’alma
Contrasta com a escuridão da minha,
Que, de tão suja, te alarma
E sabe que fenecerá sozinha
Quando chegar o momento;
Mas há de cumprir o seu intento,
De com a tua se aglutinar;
Ainda que tu possas relutar,
Seria apenas o arfar
De nossos corpos a se tocar.
Que, escura, serve-te de alento,
Trazendo qualquer tormento,
Sem, contudo, deixar de amar...

Spectrus - Josiene Ferreira/Sergipe-Bra
O Tempo e o Espaço

Quando a celebre Hora foi criada
O Espaço solitário assim vivia
No desgosto farto de madrugadas
O senhor Deus na insônia movia
Passos intervalados e pouco ritmados,
Escalados os Segundos, pareciam
Loucos soldados sofrendo guiados
Com o poderoso general Fantasia...

Nas tumbas que agora jazem,
Os pobres Segundos suicidas
Em apelativas canções de silêncio,
Contemplam o renascimento do Tempo
Com a fantástica matéria da Hora...

Eis que num estranho contentamento,
O Espaço que sempre chora
Engana a Chuva e o Vento,
Numa voz profana que incomoda...


Carlos Conrado/ São Paulo-Bra